Carreireiros atracados a "braço-dado" no cais da vila |
Arriaga e Devoto, atracados |
Tripulados por gente audaz, estas embarcações marcam uma
época, já esquecida pelos mais velhos e desconhecida pelos mais novos, em que o
transporte marítimo era muito difícil e em nada comparável aos dias de hoje.
Não havia motores, nem guindastes, não havia os modernos
apoios e equipamentos de navegação nem a segurança de meios de busca e
salvamento disponíveis nos dias que correm.
Apesar disso, os valentes marinheiros faziam-se ao mar, em
condições por vezes difíceis, com ventos e mar que faziam temer o pior.
Sem porto e com uma baía protegida dos ventos de norte, mas
muito exposta aos ventos de sul, e quando chegava o mau tempo, ("tempo de
sul") eram obrigados a varar os barcos á pressa para não correr o risco
dos mesmos encalharem.
Uns maiores, outros mais pequenos, todos tinham o mesmo tipo
de construção, com duas proas, forma ogival, com quilha, roda de proa e
cadaste, e tabuado do forro liso. Eram barcos com convés corrido, com uma
escotilha elevada ao centro, a vulgarmente chamada "camara" onde se
abrigavam os passageiros, um mastro á proa, onde originalmente armavam uma vela
carangueja, e mais recentemente um pau de carga onde, com o auxílio do molinete
da proa, que também era usado para recolher a amarra, se fazia a carga e
descarga das mercadorias mais leves.
Com a introdução dos motores, as viagens tornaram-se mais
rápidas, rondando as 4 ou 5 horas em condições de bom tempo. Na década de
oitenta foram feitas algumas alterações ao design original, primeiro, do
"Devoto Santíssimo" e depois do "Arriaga" onde se alterou a
popa para painel e introduziu-se a casa de leme nos dois restantes. "Maria
Cristina" e “Cruz Santa".
Devoto Santíssimo chegando do Funchal, década de 80 do século XX |
MS "Astor" estreia no Porto Santo
Maria Cristina encalhado na Praia década de 90 do século XX |
Infelizmente o tempo e a evolução de nada se compadece, e,
com a construção do porto, a chegada de navios maiores e a era do contentor, em
poucos anos esses lindos barcos desapareceram
Foi construída uma réplica do "Maria Cristina",
que durante algum tempo operou do mercado turístico, mas foi enviado para o
Caniçal onde aos poucos está a degredar-se.
Replica do Maria Cristina, anos 90 do século XX |
Estreia do "Hanseatic Inspiration" no Porto Santo
Ficaram as memórias, as histórias de que lá trabalhou, e
algumas fotos. Na minha opinião as autoridades competentes deveriam criar um núcleo
museológico onde pudesse ser exposto todo o historial destes BARCOS que tão importantes
foram para as gentes do Porto Santo.
Se alguém se achar no direito de reclamar a autoria de
algumas das fotos por favor contacte-me que eu as retirarei, o que seria uma
perda para a informação deste post.
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